#maesinspiradoras
A Carla é daquelas pessoas que nos fazem bem. É uma mulher que inspira porque é lutadora pelos interesses da mulher, do nosso bem estar. É Doula, Vegan, defensora da amamentação, dos direitos da mulher no parto e apologista da Educação Doméstica.
"Antes de ser mãe, nunca questionei o sistema. Assumi que
teria de cumprir uma certa sequência; ter o bebé, seguir com as diretrizes do
hospital (isso daria outra história), ficar em casa 4 a 6 meses e voltar a
trabalhar enquanto colocaria o meu filho numa creche. Obviamente que ele iria
seguir a escola normalmente.
Assumi que iria dormir no quarto dele muito cedo, não pensei
demasiado na amamentação porque assumi que era básico, não o ia habituar a
manhas e colos e coisas dessas e daria papas e as coisas normais como qualquer
mãe. Até então, eu trabalhava com crianças, era o que via à minha volta e
assumi sempre como sendo o normal.
Quando engravidei, havia algumas coisas que me faziam click…
Eu não queria deixar um filho meu a chorar…queria respeitar as emoções imaturas
dele, ser a âncora, a guia. Ao fim ao cabo, quando queremos ser pais, não será
para preencher um visto numa coluna de “must do” da vida social…
Comecei por perceber que inundamos os nossos filhos de
coisas e mais coisas e mais coisas, para os distrair da nossa presença. Mas eu
não queria distrair o meu filho da minha presença, pelo contrário! Eu queria
que ele soubesse com segurança, que eu estava com ele.
Esta nossa filosofia confirmou-se, eu e o meu companheiro
seguimos o nosso instinto e desligamos os ruídos exteriores. Muita gente
chocou, muita gente não entendeu (ou entende). Fomos pais novamente, e na
gravidez do meu segundo filhote, as nossas convicções estavam bastante
delineadas. Sabia o que precisava e não precisava.
Percebi que afastar o meu filho mais velho, do meu filho
mais novo, não era opção e tinha decidido que ia ficar com o meu mais velho
(antes de ter o mais novo), até pelo menos aos 3 anos de idade.
Com o tempo, começámos a ver escolas, currículos,
funcionamentos das escolas TODAS que tínhamos ao nosso dispor. Percebemos que a
única escola que eventualmente estaria perto das nossas filosofias, era bastante
cara. Se largasse o trabalho remoto e passasse a trabalhar a tempo inteiro,
todo o dinheiro que iria ganhar, seria para pagar as escolas. Eu ia pagar para
estar longe dos meus filhos, coloca-los dentro de ambientes com os quais não
concordamos, fazer ginástica entre o meu horário e do meu companheiro,
eventualmente sobrecarregar os meus pais quando os trabalhos não permitissem ir
buscar ou levar os nossos filhos à escola. Pior do que isso tudo…não teríamos
tempo em família. Eventualmente as nossas folgas não iam encaixar, estaríamos
de folga quando os miúdos estivessem na escola, haveria N dias em que mal os
íamos ver e provavelmente, nem férias juntos conseguiríamos ter.
Isto tudo fez imensa confusão nos nossos corações e tomamos
a decisão de seguir com o Ensino Doméstico. Ao falar com outras famílias,
percebemos que não é fácil. A sociedade não quer pessoas fora da caixa,
portanto quando tomamos opções fora da caixa, como que por artes mágicas,
surgem imediatamente os apedrejadores da sociedade. Por outro lado, as famílias
em ED são uma autêntica comunidade! O espirito de entreajuda é tão grande, que
passa para os miúdos. Circulam entre nós coisas (roupas, por exemplo),
experiências, estratégias e mais importante, apoio!
Estar em ED é um compromisso enorme e pode ser assustador.
Há muitos mitos, muitos obstáculos (que já vão sendo desbravados), há um grande
medo do ED de fora para dentro também. Estar a pensar em actividades,
considerar os currículos, tratar dos filhos, da casa, das comidas, das compras,
da vida normal que qualquer pessoa tem, é desafiante. Dá trabalho, exige
bastante atenção, mas ao mesmo tempo, ver como eles acabam por descobrir o que
gostam, o que os motiva, a forma sequiosa com que aprendem as coisas, é
fascinante. Aprenderem com a vida real, do dia-a-dia, e isso é a cena mais
espetacular do ED. Conseguirem “olhar para dentro” e aprender com o que os
move, é algo que valorizamos muitíssimo. Ao fim ao cabo, todos somos
singulares, todos nos movemos de forma diferente, e esperar que crianças
“peixe” subam a uma árvore, ou uma criança “macaco” viva debaixo de água, é
irreal.
Temos estrutura, temos grupos de famílias em ED, temos
programas, e garantidamente o que não falta, é socialização!
Com outras famílias, criamos um núcleo de famílias em ED na
zona de Cascais (apesar de já haver um mais antigo, com meninos mais
crescidos). Sincronizámos com a Associação Nacional de Pais em Ensino Doméstico
(ANPED), e desenvolvemos um núcleo local com esta associação, que nos permite
aceder a uma série de experiências, como museus, teatros, reservas naturais,
etc… conseguindo assim ter bastantes experiências em grupo a custo de escola.
No nosso caso, podemos dizer que consideramos o ensino em
Portugal, bastante deprimente. Há muitas mudanças a fazer, há muito a fazer
pelo ensino no nosso país. Não vamos esperar pela mudança… optámos por ser a
mudança. E dentro de todas as mudanças que vão ter de acontecer no paradigma
nacional de Ensino, o mais importante é a liberdade de opções. Pelos modelos,
pelos currículos, pela estrutura, pela forma, pelo conteúdo. Vivemos no modelo
da era industrial, completamente obsoleto, que repele mais do que cativa. A
mudança teria de ser tremenda, para acompanhar a evolução da nossa sociedade.
Se um dia algum dos meus filhos quiser ir para uma escola,
vai. Sem qualquer impedimento da nossa parte. Por agora, o mais velho quando é
abordado por alguém que lhe pergunta (como se eu e o meu companheiro fossemos
uns alienados) “Não gostavas de ir para a escola, para brincar com muitos
meninos”, ele diz “não. Eu gosto da escola em casa”.
Se tiverem alguma dúvida sobre Educação Doméstica podem enviar email para:
ourpicturingdays@gmail.com
Gostei muito deste texto, há coisas no nosso país que eu nem sabia que existiam, e esta é sem dúvida uma delas.
ResponderEliminarAinda bem que conseguimos com esta rubrica dar a conhecer! :) Obrigada!
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