quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Era assim, o Natal.

Lembro-me como se fossem hoje os natais que passei em criança. 
Alguns dias antes o meu pai dava-nos a mim e à minha irmã uma nota de 2.000 escudos para irmos à venda de natal. Lá comprávamos um presente para toda a família. Chegávamos todas contentes a casa, embrulhávamos tudo e criávamos o Jornal de Natal. Nesse jornalinho escrevíamos notícias, textos e jogos.
A casa dos meus avós era pequena e acolhedora mas cabia lá toda a gente. Éramos dez ao todo. O meu avô ficava numa ponta da mesa e eu e o meu primo mais novo na outra ponta. Era mágico quando nos sentávamos à mesa preparados para jantar o maravilhoso bacalhau preparado pela minha avó, servido no seu lindo serviço de jantar da Vista Alegre. Era só usado nesse dia e na noite de passagem de ano. 
Comíamos bacalhau, as batatas e polvo cozido com molho verde. Conversávamos muito e trocávamos opiniões o que seriam os nossos presentes. Depois do pudim francês, iamos para o quarto dos nossos avós ver televisão, eu, a minha irmã e os meus dois primos. Lá viamos o filme E.T ou o Sozinho em Casa até que chegasse a meia-noite.
De repente o meu pai lembrava-se que tinha que ir à casa de banho e desaparecia... nunca via o Pai Natal! Batiam à porta e diziam "Deve ser o Pai Natal!" e eu com imensa vergonha nunca ia ver... espreitava por baixo da cortina e via apenas as suas botas pretas. Quando se ia embora, os presentes estavam lá, em cima do fogão da minha avó. Era uma alegria. 
Nunca fomos ricos. As nossas casas eram pequenas e frias e o dinheiro não dava para comprar a casa da barbie ou das Polly Pocket como eu sempre sonhei... mas sempre deu para um Nenuco. 
Hoje em dia os miúdos recebem uma montanha de presentes, no natal e fora dele. Recebem tudo o que querem. Eu limitava-me a fazer uma cruzinha no catálogo de brinquedos do Continente que via todos os dias e esperar que o meu presente fosse algum daqueles brinquedos espetaculares. Não tinha brinquedos durante o ano e por isso sabia dar valor ao que recebia. O que não acontece hoje em dia. 
Sei que será difícil, mas espero que o meu filho saiba dar valor ao que recebe. Espero conseguir ensinar que o dinheiro custa a ganhar. Quero lhe contar as histórias dos meus Natais em criança.
Hoje o meu pai não está cá nem as suas botas pretas. O meu avô está muito doente. De ano para ano a magia do natal foi morrendo... mas tenho fé. Tenho fé que volte a renascer e que cresça ao mesmo tempo que o meu pequenino cresça também e que ofereça um sorriso na cara da minha querida mãe que faz anos nessa noite. 



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