sábado, 10 de janeiro de 2015

Adeus avô.

Não têm sido semanas fáceis.

Antes do Natal o meu avô faleceu. Tinha cancro há 2 anos sensivelmente e estava acamado sem se conseguir mexer. Estava lúcido de tudo. Do estado dele, da necessidade tinha em usar fraldas no fim da vida, da tristeza nos olhos das filhas, da esposa e dos netos. Estava lúcido e sabia perfeitamente que iria morrer. Fazia anos dia 25 de Dezembro, dia de Natal. Nesse dia foram lançadas as suas cinzas ao mar.

O meu avô não era católico. Era quando criança e adolescente, foi até ajudante do padre e do coveiro da freguesia onde vivo agora. Muita coisa viu e ouviu que o fez mudar. Acreditava em Deus, mas não no Deus católico. Para ele Deus era a natureza.

Amava o quintal que tinha. Cultivar, ver os legumes e as frutas nascerem e crescerem, colher e dar. Nunca vendia nada. Dava tudo. Durante anos quando chegava da escola lá estava ele. De boina e enxada na mão. Adorava a lua e as estrelas. No Verão ficava até tardíssimo a contemplar a paisagem.

A leitura era outra paixão. Devorava livros. Era capaz de ler um livro numa noite. José Saramago era o escritor de eleição. Incentivava os netos a lerem desde de sempre, nem que fossem livros aos quadradinhos.

Quando era mais novo, quando as mãos não lhe tremiam, pintava. Escrevia textos sem fim. Esculpia.
O meu avô era um artista. Um pensador. Um psicólogo. Um educador.

Ninguém devia sofrer tanto assim para morrer. Dois anos numa cama a olhar para o tecto. Enche-me de medo, de tristeza...

Mas a vida é mesmo assim, dizem.

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