Tio Rogério

O inesperado aconteceu.

Dia 19 fez um ano que o meu avô partiu. Dia 25 era o aniversário dele e eu e os meus primos combinamos irmos até à praia lançar ao mar uma carta dirigida a ele e fazer disso mesmo uma tradição.

Mas voltemos atrás.

Dia 24 de Dezembro, estava sentada a tomar o pequeno almoço calmamente sentada no sofá mesmo sabendo que ia chegar um pouco atrasada ao trabalho. Não sei porquê, deixei-me estar, tinha dormido bastante mal. O Pedro já tinha saído à muito para o ginásio e eu tinha que levar o Diogo à avó. Mas fiquei ali. Fiquei a ver nascer o dia e os primeiros raios de sol. 

O Pedro chegou a casa. Pensei eu que se tinha esquecido de alguma coisa.

"Vânia, o teu tio Rogério faleceu."

Eu fiquei a pairar no ar. Pareceu que estava ainda a dormir e a sonhar como se o que estava a acontecer fosse surreal. Dia 24 de Dezembro, dia da Ceia de Natal, dia do aniversário da minha mãe que há 10 anos não montava a árvore de Natal nem queria fazer qualquer doçaria, dia das crianças, do meu sobrinho que era como se fosse filho do nosso tio Rogério. 

O Rogério acompanhava o Gonçalo para todo lado. Ia busca-lo à escola, ia com ele ao futebol. Brincava com ele ás escondidas e ajudava-o nos trabalhos de casa. Era mesmo o melhor amigo dele. 

E num segundo, desapareceu. Acordou, deitou-se novamente e morreu. Teve um ataque cardíaco. 

Gostava de escrever o quanto foi feliz o nosso Natal mas não posso. Há dois anos que o nosso Natal é destruído pela perda de quem amamos muito. Sinceramente, ainda nem acredito bem. 

Dia 25 de Dezembro foi o funeral e no final do dia eu e os primos fizemos o que combinamos. Fomos ao mesmo local onde fomos ano passado com as cinzas do nosso avô e lançamos ao mar a carta. 

A vida é só três dias e dois já passaram.