quarta-feira, 30 de maio de 2018

Mãe é quem cria

#maesinspiradoras


Conheci a Inês online através de um grupo de mães. A Inês mostra a qualquer um que é mãe quem cria, não quem faz nascer. Obrigada!


" Em 24 horas que tem um dia, em 22h delas penso que sofro de uma inaptidão imensa para realizar a maioria das tarefas desafiantes que ser mãe acarreta, mas nem sempre foi assim. Há uns 6 anos atrás alguém me disse que Deus tinha um plano maior para mim e para o meu marido e por isso não tínhamos filhos. Como assim? Que plano pode existir para mim que não passe por ser mãe? Eu não tinha mais planos. Como todas as mães que já se sentem como tal, mas não o são, procurava todas as vias possíveis para o ser. Não existia mais nada, nem uma satisfação no emprego (apesar de trabalhar com crianças), nem em ter amigos, viajar, nada mais importava. Orava e achava que nada acontecia e mais nada importava. Um dia decidi que eu teria de existir. Decidi tirar uma segunda licenciatura, em direito (o mais difícil possível, visto que era de ciências), fiz novas amizades (tendo perdido quase todas as anteriores para seguir o meu plano à letra, de ser mãe e dona de casa), conheci Portugal quase todo num ano e assumi que iria fazer coisas diferentes e agradáveis, sempre com o meu marido, o meu melhor amigo. Inscritos na adoção, decidi partilhar esta nova “vida” e não pensei sequer nas consequências que isso teria (antes iria pensar a 100% em cada palavra, gesto, sorriso). Uns meses depois o telefone tocou, seriamos pais de um bebé de 6 meses. E agora? O tao esperado plano A. Um bebé com um atraso significativo de desenvolvimento, não se sentava, não gatinhava, não estabelecia contacto, que podia eu fazer? Primeiro pensamento, cancelar imediatamente todos os planos B,C,D, etc. a família estava longe, fiquei eu, o pai e o bebe. Decidimos não desistir, mantive os estudos, os amigos (que tanto ajudaram e que antigamente acharia que qualquer amizade seria sempre pouco útil), a família que mesmo distante sempre esteve presente. Na maioria dos dias senti-me culpada, de pensar em mim, de pensar noutras coisas, mas o bebé crescia, desenvolvia-se, parecia bastante feliz. Sentou-se aos 9 meses, falou aos 12 meses, começou a andar aos 15 meses, lentamente havia uma resposta positiva. O pai trabalhava a part-time e eu mantinha os estudos dentro do possível, nunca saímos de casa com o bebé a chorar, nunca o deixamos com ninguém, nunca deixamos de estar 24h presentes, mas entendi que estar 24h presente não faz com que a mãe se anule, a mãe existe. O bebé ia connosco para todo lado, compras, restaurantes, trabalho se fosse necessário, até ir para a escola com 18 meses. O bebé cresceu, atingiu todos os objetivos de desenvolvimento, mas acima de tudo, é amado (ao ponto da mãe não quer mais filho algum porque este ocupou todo o coração), é parecido com o pai e mãe, quer ser juiz porque diz que a mãe é a maior advogada… havia um plano maior desde sempre. Sim, é verdade, em 22h de um dia, sinto-me inapta para realizar muitos dos desafios e sinto que não estou à altura, que podia ser melhor, e às vezes a sociedade também faz pressão para que assim seja, que nos consideremos más e incapazes, o seu filho tirou as meias no café? Disse uma asneira? Mordeu na amiga? Não dorme a sesta? Vê televisão ao jantar? Sim sociedade, o meu filho às vezes descontrola-se, e eu também não sou perfeita a 100% e às vezes vejo televisão ao jantar, e às vezes não me importo nada que ele esteja descalço ou que coma terra. Na escola as críticas surgem, por se “porta mal”, porque não corresponde ao ideal da sociedade, que sinceramente nunca irei compreender qual é, porque parece que nunca chego a esse perfecionismo. E tantas vezes me senti culpada, senti-me ausente... senti-me má porque o meu filho sabia os números até 20 com 2 anos, mas às vezes cuspia, senti-me incapaz porque sabia as vogais, mas às vezes dizia uma asneira, a sociedade não perdoa, a criança sabe fazer torres de 10 peças, mas se tira um sapato, somos os piores pais de sempre.         
                Escrevo hoje o que gostaria que me tivessem escrito, o plano A pode ser o enorme amor de ser mãe, hoje e sempre foi o meu plano A, mas existe o B o C e o D… os filhos têm o direito de ser amados profundamente, por mães que fariam tudo por eles, mas as mães que amam muito também têm os seus defeitos e não sabem tudo, nem têm de saber. Os bebés não têm de ser perfeitos, vão também ter defeitos e falhas. Por mais que se tente, não vamos agradar a todos. Nunca iremos, e que bom que isso é! Hoje eu sei disso. O meu filho é muito amado, espero que um dia seja um grande juiz como diz que quer ser, ou bombeiro, polícia, super-homem, o que ele quiser ser, mas feliz, sabendo que foi muito amado desde o dia 0, que nunca desistimos dele, mas que os pais não desistiram deles próprios para que pudessem ter capacidade para ser mais por ele. As críticas existiram sempre, só temos de encontrar a melhor forma de lidar com elas, as ouvir e considerar, aproveitando-as para crescer e melhorar, mas acima de tudo amar mais ainda os nossos filhos. Somos nós mães de agora que temos de procurar novas soluções, mudar o que achamos que tem sido mal pensado, unir-nos, sermos fortes umas pelas outras e não nos deixarmos levar pela critica e pelas dificuldades. Os nossos filhos cresceram com a nossa força."




12 comentários:

  1. Belo testemunho, sim senhora, adorei :)

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  2. Adorei. Concordo plenamente contigo. Conhecer-te permitiu-me visualizar todos os detalhes.
    Um beijinho, com admiração!

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  3. Gostei muito!
    Verdade que nos devíamos unir mais, ver o outro lado e aceita-lo, em vez de andarmos só no "politicamente correto"...
    Beijinho às 2

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    1. Verdade... ainda somos muito do género “o meu filho com ano e maio já sabe fazer contas e o teu?”

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  4. Eu sou mãe de uma menina hiper, mega inteligente mas muito socialmente incorrecta. É minha e eu amo-a! O que mais quero? Que seja feliz.

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  5. Ainda há pouco tempo fiz um post no facebook sobre isso... além de que se for mulher julgamos mas se for homem pensamos: ohhh coitadinho... enfim

    Beijinhos,
    O meu reino da noite ~ facebook ~ bloglovin'

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