terça-feira, 5 de junho de 2018

O fast-fashion



Nunca fui de comprar muita roupa. Tenho a suficiente. Não tenho paciência para andar em lojas de roupa sou sincera, nem tão pouco nos saldos. Livrem-me dos amontoados de roupa por favor. No entanto, adoro ver roupa de criança. Perco-me a ver tanto roupa de menino como de menina (já repararam que o sector de menina é sempre o triplo da de menino certo?). Ultimamente tenho comprado roupa mais barata para as crianças, afinal, deixam de servir tão rápido... mas houve um post no blog Vinil e Purpurina que me chamou a atenção sobre o fast fashion.

Afinal, quem faz as nossas roupas?

 Como é possivel que uma tshit custe 1,75€? Onde há lucro nisso? Tem que se pagar o algodão, estampagem, acessórios, transporte e mão de obra. Como isso tudo vale 1,75€ e ainda ter lucro?

Já alguma vez pensaram que estas roupas que compramos e que por vezes ficam esquecidas no armário porque temos tantas outras possam ser feitas por trabalho escravo ou infantil? 

Quantas crianças passam o dia a trabalhar para que as nossas se vistam? 

Estive a ver o documentário "The True Cost" e não me sai da cabeça. Aconselho a todos a verem porque certamente a vossa visão em relação à moda e ao fast fashion vai mudar de certeza. 

Grandes marcas que usamos todos os dias como a Zara, H&M, Levis, Primark, Nike, etc., mandam fazer as roupas no Bangladesh. Existem 4 milhões de pessoas a trabalhar nas confecções no Bangladesh em condições miseráveis sem qualquer condição. Não existe ordenado mínimo e ganham uns míseros 3 dólares por dia sem horário estipulado e quem se atrever a se manifestar contra o patronato é possível que seja bastante agredido.  No documentário vemos Shima, uma funcionária das confecções que leva a filha para o trabalho. A fábrica é super quente e sem condições. Foi agredida por ter pedido melhor salário e decidiu deixar a filha na aldeia dos pais onde só a pode visitar uma ou duas vezes por ano. 

Em Deli, na Índia o algodão é vaporizado com pesticidas. A população circundante sofre de cancro entre outras doenças e não têm dinheiro para tratamentos, só para sobreviver o melhor que podem. Por isso é tão importante o algodão orgânico. Pergunto-me se a nossa própria roupa nos faz mal?

Apenas cerca de 10% das roupas doadas são reutilizadas sabiam? Os restantes 90% são depositados em aterros no Haiti ou China por exemplo. Roupas e roupas e mais roupas. Montanhas. Não são claro, biodegradáveis e acabam por libertar gases tóxicos nocivos ao meio ambiente e à saúde. Demoram cerca de 200 aos a desaparecer. 

A indústria dos curtumes na Índia liberta crómio nas águas que faz com que as pessoas fiquem bastante doentes com icterícia e cancro. Não têm meios para pagar tratamentos e vivem na miséria. 

O fast fashion faz com que nos sintamos satisfeitos com as compras que fazemos. Num instante parece que temos muito, mas quem ganha não somos nós, apenas os donos das marcas que estão mais que milionários. À custa desta gente que costura sangue, suor e lágrimas numa t-shirt de 1,75€ e não só. 

Quantas peças caras que vemos nas lojas são costuradas nas mesmas condições?...


Ao falar com algumas pessoas sobre o assunto disseram-me: e o que podemos fazer? Nada certo? 
Podemos. Podemos ver as etiquetas antes de comprar uma peça, podemos comprar roupa Made in Portugal que ainda existe em tantas lojas por essas ruas, podemos manifestar o nosso desagrado. Têm mais alguma sugestão?



 

 

13 comentários:

  1. Bem devia de existir leis que vinham de cima, contra a importação dessas marcas, mas nunca vai acontecer por causa do dinheiro envolvido...

    Tenho visto algumas marcas nossas, mas o curioso são os preços, ganham fama em outros mercados e disparam os preços que é um disparate...

    É um horror uma compra consciente sabendo como foram fabricadas, mas quem não têm poder de compra como faz?

    Óptimo post!!
    Beijinhos

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    1. Claro que nunca irá acontecer. As marcas pedem um certificado ás industrias mas eles mentem e eles claro, aceitam porque querem custo baixo. Já tentaram implementar nos Estados Unidos uma lei mas como é obvio as marcas não deixaram acontecer. Há muito dinheiro envolvido.
      Quanto ao que dizes sobre as nossas marcas sim, tens razão. Tenho comprado roupa nacional que até é barata, só não é conhecida, é uma opção para quem não quer gastar muito.

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  2. Eu percebo o teu ponto de vista e tens razao mas quem não tem muito dinheiro como faz? Nem toda a gente pode dar 10€ por uma camisola...
    E já agora, que marcas portuguesas? Por acaso não conheço nenhuma de roupa. Se o preço for bom, é de apostar.
    Beijinho**

    https://tinygirlreviews.wordpress.com

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    1. Olá Bruna :) falo por mim: os meus pais foram sempre pobres no entanto tinha roupa e andava bem vestida, só não tinha um roupeiro cheio dela. Usava roupa que me davam e a minha mãe comprava algumas peças. Toda a roupa dos meus filhos que deixam de servir dou a pessoas que sei que precisam e vão dar bom uso.
      Claro que, a primark etc é um meio muito bom para quem quer roupa nova bonita e barata. Eu própria já comprei lá muita coisa.

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  3. É horrível só de pensar, quando mais ter a consciência de que é real. É triste e é vergonhoso que este tipo de situações continuem a acontecer em pleno século XXI. Enfim...

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    1. Cada vez mais... nunca se viu tantas lojas com preços tão baixos como agora.

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  4. Acho que se reduzirmos o nosso consumo a fast fashion deixa de fazer sentido e as regras pelas quais se rege também. Existe exploração porque existe procura.
    No fundo, nenhum de nós pode retirar de si a responsabilidade.
    Excelente texto. :)
    Beijinhos

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    1. Carla, é mesmo isso que acabou de escrever! Excelente!

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  5. :( é uma realidade muito triste..
    Eu dou a minha roupa (aquela que não serve ou simplesmente deixei de usar) e sei que a minha mãe dá a quem precisa (até calçado).
    Gosto imenso de comprar na H&M..
    Acho que há pouca divulgação de roupas made in Portugal..

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    1. Muitas fábricas fecharam porque não conseguiam competir com trabalho escravo. Aqui há ordenado e horário de trabalho... é impossível fazer roupa tão barata.
      As que estão abertas cobram por ex 1€ por peça, peça essa que está a venda por 80 ou mais euros nas lojas.

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  6. Sim realmente estamos num mundo muito ao contrário.
    É preciso sermos mais verdes, mais conscientes nas compras. Aparentemente já todos sabem dos maus tratos, do trabalho jovem, da poluição das comunidades mas todos parecemos "cegos" a estas questões humanamente importantes!
    Gostei muito do post, acho que vou procurar esse documentário. Não conhecia!
    ANOTHER DESIGN BLOGG'IRL

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  7. Façam como eu. No início da estação compro duas ou três peças e mais nada! E não é por falta de dinheiro,podem crer! Simplesmente não faço parte desse enorme grupo de mulheres que perde uma meia hora por dia (ou mais) a escolher o que vai vestir.
    Resultado: uma poupança enorme que me permite ter uma boa almofada financeira no banco sempre disponível.
    No mês passado troquei de carro (comprei um novo) a pronto pagamento....e vou todos os anos para o estrangeiro fazer duas semanas de férias em sítios onde se aprendem coisas novas. Sim, porque ficar esparramada numa praia durante 15 dias a apanhar com os raios UVA não é para mim....
    Manuela

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